Entrevista
de Sandro Mendes, ex. capitão do Vitória de Setúbal ao DIÁRIO DA REGIÃO
“
Alcacerense foi o clube escolhido para fazer o estágio do fim de curso de
treinador de Nível II”
Sandro Mendes, 38 anos
de idade, é uma figura sobejamente conhecida do panorama futebolístico
nacional. O ex. capitão do Vitória de Setúbal foi jogador de futebol 21 anos e
depois de terminada a carreira continuou ligado ao futebol como coordenador do
futebol de formação do clube sadino. Na actualidade vive a sua primeira experiência
como treinador de uma equipa de seniores no Alcacerense. Em entrevista ao DIÁRIO
DA REGIÃO, Sandro Mendes revisita o seu passado enquanto jogador de futebol, aborda
o presente enquanto treinador e perspectiva o seu futuro,
Sandro
para começar proponho um regresso ao teu passado como jogador?
A minha iniciação para
o futebol deu-se na rua do bairro da Bela Vista (Setúbal). Oficialmente começei
nos Pelezinhos aos 11 anos onde estive por 2 épocas (infantil de 2ºano e
iniciado de 1º ano),depois fui para o Vitória e ai fiz o 2º ano de iniciado, 2
anos de juvenis, 2 anos de juniores e posteriormente aos 18 anos era jogador
profissional pela equipa sénior.
Os
momentos mais e os menos da tua carreira de futebolista?
Felizmente tive muitos…para
começar no meu 2º ano de júnior onde pela 1ª vez na história do Vitoria fomos
"campeões" nacionais, perdendo esse mesmo título na secretaria...um
ano depois estava a festejar a minha 1ª (de 3) subida de divisão ao serviço do
Vitoria, passado 6 meses estava a jogar na 1ª Liga Espanhola onde na minha
estreia ao serviço do Hércules fui ganhar em Camp Nou ao Barcelona (2-3) cheio
de craques (Figo, Ronaldo “O fenómeno", Guardiola) entre outros...as
chamadas a Selecção Nacional tanto Portuguesa (Sub-21), como a Selecção Nacional
A Cabo-verdiana. Os apuramentos para a Liga Europa onde tive o privilegio de
jogar também ao serviço do Vitória e as finais disputadas. O chegar a um clube
de topo mundial FC Porto. Os menos também os tive, entre eles está sem dúvida a
descida de divisão na época 2002/2003 ao serviço do Vitória, o não ter tido uma
oportunidade sequer de poder falhar ao serviço do FC Porto e para mim o momento
realmente menos da minha carreira foi ao fim de tantos anos de dedicação não
ter tido a oportunidade de me despedir dos sócios e simpatizantes do Vitória
Futebol Clube enquanto jogador.
Quais
os clubes e treinadores que te marcaram mais? Títulos alcançados?
Sem qualquer réstia de
dúvida o Vitória. O FC Porto (mesmo tendo lá passado pouco tempo),o
Hércules...de uma maneira ou de outra todos me marcaram, o Villa Real, o
Salamanca, Manisa Sport (Turquia) e o Naval 1º de Maio (onde finalizei a minha
carreira). O Quinito foi o treinador que mais me marcou por tudo, pelo Homem, por
ter tido a coragem de apostar num "menino", pelos ensinamentos e por
ser um Amigo até ao dia de hoje. Depois dele acho que aprendi com todos, alguns
deles aquilo que não se deve fazer, mas desde o Mário Reis (treinador que me
lançou na 1ªdivisao), o Jorge Jesus com quem tive o privilégio de subir pela 2ª
vez de divisão, o Carvalhal(a minha 3ª subida e a taça da liga), o
Couceiro(formou a equipa vencedora da taça de Portugal) entre outros que também
me marcaram de alguma forma. Não posso incluir o título de campeão nacional de
juniores, resta-me a conquista da uma Taça de Portugal em 2005 e a 1ª Taça da
Liga em 2008 sempre ao serviço do Vitória Futebol Clube.
Ligação
ao Vitória depois do ponto final na carreira de jogador?
Tive a oportunidade e o
privilégio de continuar ligado ao Futebol e ao Vitória como coordenador da
formação, onde comecei a conhecer melhor o futebol agora do "outro
lado". A oportunidade de trabalhar com "pequenos/grandes Homens, onde
pude implementar algumas ideias e ver os resultados. Por isso posso dizer que
foi uma experiência positiva.
Como
surgiu o convite para treinares o Alcacerense? O que te foi pedido? Como foi
formado o plantel?
O convite surgiu numa
altura em que procurava um clube onde pudesse fazer o estágio de fim do curso
de treinador Nível II, e a conversa simples e honesta que tive com o presidente
do clube agradou-me e assim podia ajudar o clube e por sua vez terminar o
curso. Pela direcção, na pessoa do Presidente, a única coisa que me foi pedida
foi seriedade e tentar fazer o melhor possível sem metas visto que este foi o
ano 0 (zero) onde não havia sequer uma base para começar. A ideia seria fazer
uma equipa com jogadores de Alcácer e isso fizemos. O plantel começou a ser
formado com treinos de captações e dentro do que ia aparecendo foi feita uma
escolha. Infelizmente não houve muito por onde escolher, dai termos um plantel
bastante desequilibrado, como por exemplo, só termos 1 guarda-redes desde que
começamos a época.
Como
está a correr esta tua 1.ª experiência como treinador de uma equipa de seniores?
A experiência por um
lado está a ser complicada dadas as circunstâncias, mas ao mesmo tempo positiva
porque se com estas dificuldades e sem matéria-prima (jogadores), conseguimos
fazer frente a equipas com objectivos e condições bem diferentes dos nossos, significa
que existe qualidade no trabalho e também me obriga a crescer a todos os
níveis. Colectivamente queríamos mais e melhor mas temos que ser realistas e
ter os pés bem assentes no chão. A época não tem sido fácil. Temos um plantel
muito jovem com alguns juniores de 1º ano a serem titulares na maior parte dos
jogos, mas um número de atletas muito inferior aquele que era desejado. Para
quem tem que fazer mais de 100 km´s para dar um treino, chegar ao estádio e ter
9/10 jogadores, é um pouco frustrante. Mas estão lançados os dados e criou-se
uma base, e sendo essa mesma base jovem e com alguma qualidade penso que o
Alcacerense tem condições para continuar este projecto e vir a alcançar objectivos
maiores a médio prazo.
Como
analisas o campeonato da 2.ª distrital a nível do futebol praticado, clubes,
dirigentes e arbitragens?
Na minha opinião, em
alguns jogos existe qualidade onde se vê que as equipas tem os seus processos
bem trabalhados e com alguns jogadores de bom nível, uns já com alguma idade
que poderiam ter chegado mais alto e por uma ou outra razão não o conseguiram e
outros ainda jovens que só esperam ter uma oportunidade para dar o salto. Os clubes
vão fazendo pela vida o melhor que podem com as suas direcções, alguns quase
sem apoios e ai há que louvar o trabalho dos dirigentes. Quanto às arbitragens,
muitos árbitros também estão a iniciar uma carreira, uns são jovens e todos são
humanos, sempre haverá erros mas na minha opinião temos boas arbitragens na 2ª distrital...claro
que há sempre quem se esconda atrás das arbitragens para justificar outras
coisas…
Qual
a justificação para o facto do Alcacerense ainda não ter vencido na 2.ª fase do
campeonato?
É verdade que ainda não
conseguimos conquistar qualquer vitória nesta fase, mas como já disse temos que
ser realistas e saber o que podemos fazer e o que temos feito dentro das
dificuldades que temos: a falta de jogadores e a média de idades. Acho que
temos feito até algo que muitos não acreditariam. Já disse que temos um plantel
muito desnivelado sem o numero de jogadores que seria desejado, com muitos
jogadores na casa dos 20/21 anos com a formação feita em Alcácer. Já jogamos
contra todas as equipas e não fomos inferiores a nenhuma, perdemos os jogos nos
pormenores ou em alguns erros individuais, erros que com trabalho e um pouco
mais de experiência deixarão de acontecer tão regularmente. É uma equipa nova, jovem
e com futuro.
Na
tua opinião quais as equipas mais apetrechadas para subirem à 1.ª distrital?
Pelo que tenho visto,
os Pescadores se não acontecer nada de anormal, acabarão por subir. Depois
resta um lugar para 2 ou 3 equipas, a AD Quinta do Conde e o Vasco da Gama
estão bem, sem colocar de lado o Paio Pires.
Como
te defines enquanto treinador? Quais as tuas ambições? Qual o teu futuro?
Como treinador não me
posso alargar muito visto estar a começar. Tenho as minhas ideias claras, sou
um treinador de muito trabalho, gosto de ter equipas disciplinadas tacticamente,
sei o que quero e o que fazer para o alcançar. Tenho a ambição de ser melhor
hoje do que era ontem, e de ser melhor amanhã do que sou hoje. O meu futuro
também eu gostaria de saber, mas de certeza que a curto prazo todos saberemos.
João
Fernandes
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