Entrevista
de Paulo Catarino jogador do Fabril do Barreiro ao DIÁRIO DA REGIÃO
“
Goleador de 42 anos diz-se preparado para jogar mais alguns anos e alcançar os
300 golos na carreira”
Paulo
Catarino representa o Fabril do Barreiro, clube da 1ª divisão distrital da AF
de Setúbal. Completou recentemente 42 anos de idade e já leva 25 anos de
carreira como futebolista, tendo representado ao longo da mesma 22 clubes. Natural
de Setúbal, é um ponta-de-lança de veia goleadora, com o impressionante registo
de 274 golos marcados ao serviço dos vários clubes por onde passou. Paulo
Catarino é um lutador nato para quem arrumar as botas está para já fora de
questão, pretendendo continuar a jogar e se possível atingir a marca dos 300
golos na carreira, o que seria um feito notável. Em entrevista ao DIÁRIO DA REGIÃO, o jogador faz uma
retrospectiva da sua carreira, aborda o presente e fala do seu futuro.
Como nasceu o Paulo Catarino para o
futebol e como têm sido estes 25 anos de carreira?
Começei
a jogar futebol aos seis anos no clube do meu bairro SC Figueirense, onde
estive até aos Juvenis. Depois fiz o resto da minha formação nos juniores do 1º
Maio da Varzinha, também um clube de bairro em Setúbal. Já como senior posso
dizer que me sinto orgulhoso de ter começado no escalão mais baixo do futebol
(distritais) e ter chegado à 1ª Liga passando por todas as divisões do futebol
português à custa do meu trabalho e acreditando sempre nas minhas capacidades.
Fui sempre contratado para fazer golos e graças a Deus posso me orgulhar de ter
sido o melhor marcador de equipa em 17 dos 22 clubes onde joguei, e só não fui
em quase todos porque tive cinco lesões graves que me roubaram muito tempo.
Apenas em duas épocas não fui titular nas equipas onde joguei; no Vitória de
Setúbal e esta época no Fabril. Acho que isso diz muito da forma como sempre
encarei esta profissão.
Momentos mais alto da carreira de
futebolista?
O
momento mais alto foi sem dúvida a chegada à 1ª Liga e ao clube da minha terra
(V.Setúbal), mas tive sempre momentos muito bons em todos os clubes por onde
passei e onde fui sempre acarinhado por toda a gente.
Qual o treinador ou treinadores que
mais o marcaram?
Tive
o prazer de ter trabalhado com grandes treinadores, homens do futebol e com
todos aprendi. Destaco o mister Castro no Quintajense, porque foi ele quem
acreditou em mim como ponta-de-lança já que eu era médio ofensivo na altura e
com a lesão do nosso ponta de lança ele lançou-me nesse lugar onde até hoje
tenho sido bem sucedido. Mas o treinador que mais me marcou foi Ricardo
Formosinho. Não tinha terminado a época no Nacional da Madeira tendo sido
operado a uma lesão grave na coluna. Poucos acreditavam em mim, os clubes
interessados queriam todos que eu fosse treinar primeiro antes de assinar com
medo que eu não estivesse apto fisícamente, e aí graças a Deus apareceu o
mister Ricardo Formosinho que me contratou e acreditou em mim. No final pude
retribuir a confiança em mim depositada com 27 golos marcados e a subida do
Imortal à 2ª Liga. Num universo de quase 40 treinadores acho que não defraudei
a maioria que apostou em mim.
Quando surgiu a apetência por
marcar golos?
A
minha veia goleadora sempre se manifestou desde os 6 anos pois mesmo jogando
como médio ofensivo sempre fiz muitos golos nas camadas jovens. Depois de
assumir uma posição mais avançada no terreno fazer golos começou a ser algo
natural, tendo para isso tido nas equipas onde joguei, colegas que me
facilitavam muito nessa tarefa. Graças a Deus joguei com grandes artistas na
arte de fazer assistências para golo. Quanto maior for a qualidade de uma
equipa, mais fácil se torna para um ponta de lança fazer golos, por isso é que
é mais fácil fazer golos num nível mais elevado do que nos escalões mais
baixos.
Olhando para trás na sua carreira
pensa que podia ter chegado mais longe?
Nã
sei se podia ter ido mais longe ou não, nem me preocupo com isso. Não sou um
frustrado no futebol, não tenho vaidade naquilo que conquistei, tenho antes
orgulho. Não tenho inveja do sucesso dos outros, sou feliz com o que consegui,
fui até onde tinha que ir sem passar por cima de ninguém, respeitando todas as
instituições que representei, todos os colegas, treinadores dirigentes,
funcionários, adeptos, árbitros, jornalistas e demais envolvidos no futebol.
Fui muito feliz e continuo a sê-lo em cada segundo que me deixam entrar em
campo pois amo este desporto e sem ele a minha vida não seria uma vida
compleamente feliz como é.
Um balanço das três épocas que leva
ao serviço do Fabril do Barreiro?
Quando
à três anos aceitei representar GD
Fabril, foi com a intenção de fazer o mesmo que fiz em todos os clubes onde
joguei, marcar golos porque é isso que esperam de mim. É para isso que me pagam
e contratam para com golos ajudar a vencer jogos e campeonatos. As duas
primeiras épocas foram muito boas a nível individual onde fiz 26 golos, mas
frustrantes em termos colectivos porque falhámos o objectivo da subida de
divisão. Este ano num campeonato que não tem a qualidade dos anteriores em
termos de equipas, somos claramente mais fortes que os outros e ocupamos
merecidamente o 1º lugar. Individualmente sem dúvida o pior ano da minha
carreira quando nada o fazia prever. Começei a época como titular, no 1º jogo
ajudei com um golo a passagem à 2ª eliminatória da Taça de Portugal, fui
titular na 1ª jornada do campeonato frente ao Paio Pires onde saí ao intervalo sem
ter tocado mais que duas vezes na bola e sem uma única oportunidade de golo, e
até agora joguei apenas mais dois jogos e alguns minutos finais de outros
jogos.
Como define o seu actual estado de espírito?
Lógicamente
que não posso estar feliz nem moralizado quando sinto que quem decide acha que
eu não tenho qualidade para jogar mais.Respeito evidentemente as opções de quem
manda e lamento profundamente não poder contribuir efectivamente também para a
provável subida de divisão com que sonho nestes três anos que levo nesta casa.
O Fabril merece pelas condiçoes que dispôe e dá aos seus atletas, é um clube
cumpridor e merece estar em outro patamar que não a distrital. Ficarei feliz
pelos meus colegas, treinadores e dirigentes, mas não será perfeito para mim
individualmente porque pouco ou nada contribui para esse sucesso. Contribuir
para mim é jogar, fazer golos, sentir que sou opção e não sou hipócrita de
dizer que sinto isso.
O Paulo é um exemplo de longevidade
no futebol.Quando pensa em arrumar as chuteiras?
Fiz
recentemente 42 anos e sei que isso é um peso enorme para muitas pessoas que
andam no futebol e concerteza até no clube que represento, mas isso a mim
diz-me pouco. Nunca me importei com o B.I e pouco me importa o que pensam os
outros sobre isso pois treino da mesma forma que todos os outros colegas, os
mesmos dias, as mesmas horas. Nas duas épocas anteriores fui o melhor marcador
da equipa, dos jogadores mais utilizados. Nunca pedi descanso, raramente estou
lesionado, por isso sinto-me perfeitamente bem e preparado para jogar por mais
alguns anos e alcançar os 300 golos na carreira. Não sei onde vou terminar, sei
apenas que gostava de terminar onde me respeitassem pelo muito que já dei ao
futebol, e o muito que me privei para viver o sonho de uma vida com
honestidade, profissionalismo e entrega a cada camisola que enverguei.
Quando acabasse a carreira gostava
de ficar ligado ao futebol?
Tenho
o Nível 1 do curso de treinador, concerteza farei o 2º nível nos próximos anos
e gostava imenso de ficar ligado ao futebol. Para já não pois quero continuar a
jogar e apenas jogar, mas um dia gostava de poder transmitir aos outros mais
novos ou não, alguma da experiência, ideias e conceitos que tenho sobre o jogo.
O Paulo tem um filho a dar os
primeiros passos no futebol. Filho de peixe sabe nadar?
Ser
pai do Pedro é uma honra e uma responsabilidade enorme. E um miúdo fantástico
com muita personalidade, muita humildade, muito respeitador e educado. Guiá-lo
para ser uma pessoa de bem, um homem com carácter e feliz é a minha missão independentemente
de vir a ser jogador ou padeiro. Neste momento ele vive o sonho que eu vivi
numa realidade completamente diferente, não o pressiono para seguir os meus
passos, embora gostasse óbviamente que ele o fizesse. Ele fez a formação nas
escolinhas do Vitória dos 6 aos 10 anos, e depois mais três no 1º Maio da
Varzinha onde este ano faz a sua 1ª época no futebol 11. Leva 17 golos marcados
esta temporada. Olhando para ele com olhos de homem do futebol e não de pai,
reconheço-lhe qualidade técnica que com os anos vai por certo aprimorar,
precisando de mais “corpo” para poder evidenciar mais a sua tècnica. Para já
vai ganhando o gosto pelo golo e pela finalização, e mais importante que
qualquer outra coisa, chega a casa feliz porque joga e diverte-se...
JOÃO FERNANDES
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