Amândio
de Jesus director desportivo da UDC Banheirense em entrevista ao DIÁRIO DA
REGIÃO
“
As dificuldades do futebol a nível distrital são cada vez maiores”
Amãndio
de Jesus, nascido a 23 de Fevereiro de 1957 em Aljezur, distrito de Faro,
desempenha actualmente as funções de director desportivo da equipa de futebol
da União Desportiva Cultural União Banheirense, clube que disputa a 1ª
distrital da AF de Setúbal. Uma figura sobejamente conhecida e respeitada por
todos os agentes do futebol distrital, pela sua forma de estar no desporto, um
“gentleman”. O DIÁRIO DA REGIÃO foi ao encontro de Amândio de Jesus, que nos
concedeu a seguinte entrevista onde aborda vários temas do futebol:
Desde quando está ligado ao
Desporto? Que funções tem desempenhado?
Fui
árbitro de futebol durante 11 anos (1981/1992), mas estou ligado ao futebol
federado desde 1971, portanto à 35 anos. Iniciei-me como director desportivo no
SC Vinhense, numa altura que esta função ainda tinha a designação de
“vice-presidente desportivo”. Tinha abandonado recentemente a arbitragem e
queria continuar ligado a esta modalidade que sempre amei, e fazia sentido
iniciar esta função no clube onde começei a aprender o que era o associativismo
e o futebol distrital. Seguiu-se o Grupo Desportivo Qª do Facho (director
desportivo da equipa feminina de futsal), o Luso do Barreiro, no qual fui
director desportivo de todos os escalões desde os juvenios aos seniores, o
União Banheirense, o GD Lagameças, o GD Portugal. Novamente o SC Vinhense e o
GD Lagameças, a AD Qª do Conde e na época passada a UDC Banheirense. Penso que
sou o dirigente, ou um dos dirigentes, que passou por mais clubes do distrito
de Setúbal.
Que papel
desempenha um director desportivo numa equipa de futebol?
O director desportivo é o elo de ligação entre os
jogadores, a equipa técnica e o presidente e/ou vice-presidente da direcção. Em
suma, é o responsável por tudo o que seja inerente à estrutura do futebol e
representa o clube perante todas as instâncias desportivas, nomeadamente a associação
de futebol e as equipas de arbitragem.
Quais são os
requisitos necessários para o desempenho dessas funções?
Primeiramente, gostar realmente deste cargo e deste
desporto. Depois, ter credibilidade perante as instituições desportivas e os
seus agentes, ser ponderado, estar disponível 24 horas por dia para resolver
qualquer problema ou situação que surja, ter capacidade de liderança cuja
necessidade varia consoante os clubes e, por último, ter conhecimento de tudo o
que diga respeito ao futebol distrital particularmente à organização dos jogos,
às leis e aos jogadores do distrito, de forma a juntamente com a equipa
técnica, conseguir construir-se um bom plantel.
A UDC
Banheirense constituíu a grande surpresa pela positiva no campeonato da época
anterior?
Para ser sincero, excedeu completamente as minhas
espectativas. Construímos um plantel para disputar a 2ª distrital e com várias
limitações, sendo uma das mais preponderantes, para além de não existir
dinheiro para pagar a jogadores, não sabermos em que campo iríamos treinar e
jogar, sendo uma das opções jogar no pelado o que complicou muito as
contratações. Durante o campeonato pelo que via do trabalho dos treinadores e
da forma como os jogadores lutavam, o que se espelhava nas vitórias e no nosso lugar
na tabela classificativa, fiquei tranquilo em relação ao nosso objetivo, a
manutenção, e orgulhoso por pertencer a este grupo. Fomos sem dúvida a equipa
surpresa da 1ª distrital e da Taça AF de Setúbal na qual chegámos à final
deixando pelo caminho muitas equipas com nome no distrito e orçamentos
incomparáveis ao nosso.
Reconhecimento
por parte do clube no seu trabalho?
A forma como fui recebido desde o primeiro dia que entrei
na União Banheirense para reunirmos, pela direção e pela equipa técnica e,
posteriormente, pelos jogadores, sócios e simpatizantes, marcou-me realmente e
fez-me sentir parte integrante deste projeto e esse foi o principal motivo que
aceitei continuar no clube na próxima época. Quero agradecer ao presidente do
clube, Paulo Dias e ao vice-presidente, Leonel Cardeira, pela grande
disponibilidade que sempre tiveram com o grupo de trabalho, à equipa técnica
liderada pelo Ricardo Pardal, por toda a dedicação e competência que demonstram
diariamente, ao fisioterapeuta, Gonçalo,
ao grande Torrão e ao Ti Chico. Foram estas pessoas que fizeram com que
pela primeira vez em muitos anos começe uma época no mesmo clube. Aproveito
ainda para agradecer à minha esposa e à minha filha por todo o apoio que me têm
dado ao longo de todos estes anos, em que tenho dividido o meu tempo livre
entre elas e o futebol.
Como analisa o
estado do futebol na actualidade e dos seus principais agentes?
A nível nacional, o estado atual do futebol causa-me bastante
preocupação porque a cada época que passa vejo os clubes mais pobres e a
federação mais rica. No futebol distrital as dificuldades são ainda maiores, se
antes, não à muitos anos atrás, a maioria dos clubes tinha bons orçamentos para
construir plantéis, hoje a maioria dos clubes que ainda se mantêm em competição
vêem-se à rasca para pagar as inscrições dos jogadores e as taxas à associação
e à polícia nos dias de jogo. Por este andar, corremos o risco de em pouco
tempo a 2ª distrital desaparecer e a 1ª perder também clubes e qualidade. Por
outro lado, sinto que hoje o futebol transformou-se num negócio de alguns que
entram nos clubes, criam escolas de formação bem pagas pelos pais até
determinada faixa etária e não têm sequer a preocupação de fazer seniores e
muitos já nem juvenis. É como atirar pássaros para a rua sem se ter a mínima
preocupação de ensiná-los a voar. Em relação à arbitragem, tal como ontem, hoje
e amanhã serão sempre contestadas, consoante muitas vezes o resultado de cada
equipa. A única crítica que tenho a fazer, é que vejo que falta-lhes por vezes
humildade para assumir os seus próprios erros, mas são muito minuciosos a
castigar os erros dos outros intervenientes, tornando-se algumas vezes,
autênticos “caçadores de multas”. Relativamente aos dirigentes, penso que têm
acompanhado a evolução do futebol e a prova disso é que atualmente joga-se
pouco em campos pelados, mas preocupa-me que não exista mais “sangue novo”
nestas funções. Quanto aos treinadores, julgo que são a classe que mais evoluiu
em termos de qualidade e profissionalismo com que desempenham as suas funções,
o que torna cada vez mais acerada a competição entre eles para conseguirem um
lugar num clube, sendo estes cada vez menos.
Como perspectiva
a nova época desportiva 2014/2015?
Prevejo uma época mais disputada na 1ª distrital no que diz
respeito à luta pelo título, sendo o Barreirense, pela sua história o maior
candidato ao título, e seguidamente sem ser forçosamente por esta ordem,
acredito que o União de Santiago, o Amora e o Alcochetense vão intrometer-se na
luta. Depois, todas as outras equipas irão lutar para não descer, que no nosso
caso continuará a ser o grande objetivo. Em relação à nossa equipa tivemos
algumas saídas que eram esperadas de jogadores fulcrais no nosso método de
jogo. contudo com os que ficaram e com aqueles que já se comprometeram connosco
acredito que este ano temos um plantel mais equilibrado que nos dá garantias de
conseguirmos alcançar o nosso objetivo e voltar a fazer uma boa campanha na
Taça AFS.
O
desaparecimento de uma figura grata como a de Francisco Mestre?
Mais do que títulos, o futebol deu-me verdadeiras amizades,
e uma das maiores, senão talvez a maior, a do meu grande amigo e treinador
Francisco Mestre a quem devo muitos dos ensinamentos pelos quais me rejo e que
me ajudaram a ser o director desportivo que sou hoje. O futebol ficou sem
dúvida mais pobre...
João Fernandes
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